segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A graça de ser só.

Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da


grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias.

Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os

padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que

recebamos o direito de nos casar e constituir família..

Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o

fato de padre não poder casar.

Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a

sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida

sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em

argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do

"pode ou não pode".

A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais.

Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos

coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de

doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar

a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença

para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar não me priva

do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a

possibilidade de ser dos que precisam de minha presença. Na palavra

que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha

condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito

ser o certo.

Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi

imposta. Ninguém me obrigou ser padre, e quando escolhi o ser, ninguém

me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu

ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que

só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos

direitos. É questão de maturidade.

Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo

lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo

quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas

cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma

experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida.

Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a

compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na

carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças

continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo

histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro

do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha

sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco

para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da

sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar

em "propriedade privada". Querem depositar sobre mim o seu universo de

carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas

vidas.

Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso

pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve

os problemas do mundo.

Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais

públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras, nem

olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere.

Fizeram sexo demais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro

frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive

de outras formas de carinho.

É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem

que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma

que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento

também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso

perguntamos sempre - É de livre e espontânea vontade que o fazeis? - É

simples. CASTOS OU CASADOS, NINGUÉM ESTÁ LIVRE DAS OBRIGAÇÕES DO AMOR.

A FIDELIDADE É O ROSTO MAIS SINCERO DE NOSSAS PREDILEÇÕES.

A GRAÇA DESÇA SOBRE CADA UM DE VOCÊS MEUS FILHOS!

EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPIRITO SANTO AMÉM.



Padre Fábio de Melo

2 comentários:

  1. Nossa, adorey. Eu gosto mto do Padre Fabio, mesmo sendo crente.rs. Le, to mto feliz com seu blog...^^
    bjus amigoooo

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  2. Ola Leandro

    Graça e Paz!

    Vim conhecer seu espaço digital. Bom posts! A internet é um espaço precioso onde podemos falar de Jesus e discutir diferentes pontos de vista!

    Aproveitando, faço uma apresentação do meu blog:

    Genizah é um blog cristão diferente. Hilário e divertido, mas que não dispensa a seriedade na defesa do Evangelho. Uma mistura bem balanceada de humor, denuncia e artigos devocionais. No Genizah, você fica sabendo da última novidade do absurdário "gospel", mas também não falta material para inspiração e ótimas mensagens dos melhores pregadores. Genizah é um blog não denominacional apologético, com um time é formado por escritores, pastores, humoristas e chargistas cristãos.

    Aguardo sua visita. Vamos nos seguir!

    Abraços em Cristo e Paz!

    Danilo Fernandes

    http://www.genizahvirtual.com/

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